Nota 40: A evitação da linguagem classista

 


No discurso administrativo do varejo alimentar, não se pode nomear o trabalhador como trabalhador, apenas como colaborador, promotor e terceiro.

É uma tentativa de (re)constituir o mundo da empresa capitalista nomeando-o, poderia dizer Bourdieu, a despeito das desigualdades concretas expressadas nas hierarquias dos locais de trabalho.

Esse é um exemplo cotidiano da evitação da linguagem "classista" no setor de serviços. Um intento de que pelo discurso, o trabalhador não se perceba enquanto tal, mas como algo que não é um patrão nem um administrador, contudo também não é um trabalhador.

Afinal, essa palavra passou por uma politização via sindicalização. E se um sindicato é aquilo que agrupa trabalhadores, no sentido de suas demandas políticas e econômicas num contexto de antagonismo de classes, ao evitar nomear "colaboradores", "promotores" e "terceiros" como trabalhadores, se desejasse contornar a politização dessas categorias. É como se a linguagem pudesse funcionar eficazmente como mecanismo antissindical.

Ao reduzir discursivamente o espaço de possibilidades de congregação sindical, a única instituição que poderia os agrupar seria a empresa ou melhor dizendo, seria a hierarquia da empresa. Ao menos parece ser esse o efeito de realidade almejado pelos operadores do discurso administrativo do varejo alimentar.


Raphael Cruz



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