Anarquismo e campesinato no Brasil: o Grupo Libertário Sacco e Vanzetti

Título do anúncio da formação do Grupo Libertário Sacco e Vanzetti, em A Plebe, nova fase, Ano III, n. 81, p. 2 Disponível em Marxists Internet Archive
 

No dia 20 de agosto de 2023, meu amigo Alexandre enviou-me um recorte do jornal paulista A Plebe, do ano de 1935. Nele constava o anúncio de fundação de um grupo anarquista na cidade de Teresina, Piauí. O mesmo foi nomeado de Grupo Libertário Sacco e Vanzetti, referência aos anarquistas ítalo-americanos executados pelo Estado, na cadeira elétrica, em 23 de agosto de 1927, nos Estados Unidos da América.

O que mais me tomou a atenção, em tal anúncio, assinado por alguém chamado de J. Neves, foi o projeto do grupo em realizar o que eles chamaram de "excursões" ao interior do Estado, "especialmente às regiões camponesas", aonde levariam a "doutrina anarquista". Isso porque um enfoque doutrinário direcionado ao campesinato era a exceção nos agrupamentos anarquistas existentes no Brasil durante todo o século XX. 

É raro encontrar na imprensa ácrata do século passado, alguma informação substancial sobre a ida de anarquistas brasileiros ao campesinato para realizar agitação, propaganda ou até mesmo impulsionar a organização sindical rural. Escassas, mas não inexistentes, são as menções sobre a questão agrária e a condição camponesa no Brasil.  

Nesse sentido, esse recorte enviado a mim provocou uma dupla surpresa. A primeira, que existiu um agrupamento anarquista em Teresina durante a Era Vargas. A segunda surpresa foi que a sua intervenção estava orientada para o segmento social do campesinato piauiense, o que me fez pensar que esses camaradas buscavam uma ação condizente com o contexto socioeconômico em que se encontravam. Não passou despercebido para mim que isso, de alguma maneira, contornava o urbanocentrismo de grupos anarquistas das regiões sul e sudeste do Brasil. Posso ainda evocar uma terceira surpresa, a da vocação internacionalista desse agrupamento piauiense, intitulando-se com os nomes de dois mártires da classe trabalhadora mundial. 


Cabeçalho da edição de A Plebe onde se encontra o anúncio de formação do Grupo Libertário Sacco e Vanzetti

Voltando ao anúncio, é mencionada uma sede provisória, contudo, sem número, localizada na rua Campos Sales, que, atualmente, é uma das avenidas da cidade de Teresina.

Uma imensa curiosidade instalou-se em mim após o contato com esse recorte de jornal, de 88 anos. Quem foram esses camaradas? A essa altura, todos mortos. Quais os seus nomes, profissões, onde residiam? Que ações almejavam realizar entre o campesinato piauiense? Quanto tempo durou o grupo? Que cidades chegaram a visitar? Se é que iniciaram as suas "excursões". Que concepção política possuíam a respeito do campesinato? Perguntas essas as quais a atual disponibilidade de documentos não permite responder objetivamente, apenas imaginar.  


Raphael Cruz


Anexo

Anúncio da formação do Grupo Libertário Sacco e Vanzetti, em A Plebe, nova fase, Ano III, n. 81, p. 2 Disponível em Marxists Internet Archive

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