Elogio aos estudos de comunidade



Tenho fascínio pelos estudos de comunidade, os quais representaram um esforço notável para transcender o ensaísmo nas ciências sociais. Até a década de 1970, foram publicados 24 desses estudos no Brasil, a maioria deles nos anos 1950.

Eles surgiram em uma época em que a sociologia e a antropologia convergiam na pesquisa empírica e na qual havia uma fertilização cruzada entre as teorias antropológicas e sociológicas.

Apesar de seus aspectos datados e pouco críticos, nos estudos de comunidade se realizavam modalidades de sociologia rural e ambiental avante la lettre. Eles são, hoje, fontes de dados históricos sobre práticas agroecológicas e organização territorial do campesinato e das comunidades tradicionais no período anterior à "revolução verde", à mecanização da agricultura e ao desenvolvimentismo dos governos militares sobre o campo.

Outra parte notável é a descrição etnográfica das relações de raça, classe e gênero que permeavam o mundo rural brasileiro. Notável porque levava a sério as formulações nativas sobre essas relações e as utilizava como esteio para a compreensão da subjetuvidade dos agentes e para a explicação da estrutura social das comunidades estudadas.

O meu derradeiro destaque sobre os estudos de comunidade é como neles se pode encontrar um valioso repertório de dicas e estratégias de pesquisa empírica para produzir dados sobre temas tão diversos quanto estratificação social e crenças sobrenaturais em comunidades rurais.

Raphael Cruz

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