O fascismo segundo Karl Polanyi

Karl Polanyi (1886-1964)

APRESENTAÇÃO

Este texto foi escrito como uma apresentação para o livreto intitulado Sobre o fascismo, lançado pela editora Terra sem Amos em março de 2020. A obra reuniu textos de Karl Polanyi sobre a ascensão do fascismo na Europa.

Raphael Cruz


O FASCISMO SEGUNDO KARL POLANYI

A presente coletânea reúne textos de Karl Polanyi (1886-1964) sobre o fascismo, escritos entre 1935 e 1944.

Neles, o autor húngaro traça os aspectos decisivos que levaram a substituição da democracia burguesa pelo autoritarismo fascista nos Estados europeus na primeira metade do século XX.

Para Polanyi, a ascensão do fascismo está relacionada a três fatores: a destruição do capitalismo liberal, do padrão ouro e da soberania absoluta dos Estados.

O fascismo foi, assim, beneficiado pelo desequilíbrio econômico proporcionado pelo funcionamento desastroso do “mercado autorregulável”, com suas crises, como a de 1929, e pelo desequilíbrio de poder, iniciado com a revisão do Tratado de Versalhes pela Alemanha.

Tais fatores políticos e econômicos criaram um "vácuo" que foi preenchido pelo fascismo com as ideias de economia corporativa, governo forte e sociedade disciplinada.

Os partidos conservadores e liberais funcionaram como forças auxiliares do fascismo ao combaterem durante anos as ideias de igualdade política e econômica, tais como defendidas pelo socialismo.

Em outras palavras, o combate de liberais e conservadores à radicalização da democracia, representada no pré-Segunda Guerra Mundial pela ascensão dos sindicatos de massa, dos governos social-democratas e dos regimes comunistas no centro e no leste da Europa, propiciou um ambiente favorável para que o fascismo - e não o socialismo - fosse percebido como uma solução viável para o fracasso da sociedade de mercado.

Para Polanyi, o socialismo e o fascismo representaram diferentes respostas à crise da democracia parlamentar e do capitalismo liberal.

A atualidade dos textos desta coletânea é que eles são um alerta antifascista aos povos. Num horizonte de crise da democracia burguesa, a solução passa por radicalizar o princípio democrático nas esferas política e econômica.

Na atual crise do capitalismo neoliberal, o mundo só pode ser “salvo” de um retorno à barbárie fascista através do fortalecimento das organizações da classe trabalhadora e da adoção pelos governos de medidas políticas e econômicas socialistas.

No passado, a insistência das elites europeias em salvar o mercado das próprias crises que criou e, assim, aumentar a miséria do povo, foi uma condição para a ascensão do fascismo.

No presente, o atual empenho das elites globais em salvar o mercado indica que a burguesia internacional despreza a sangrenta lição do passado, que ensinou a classe trabalhadora mundial que as crises econômicas e o fascismo não se combatem com mais capitalismo e autoritarismo, mas com socialismo e liberdade.

Raphael Cruz

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