Atrasos da elite

Jessé Souza (1960-)


Animado com a leitura de A elite do atraso, de Jessé Souza.

Neste livro, ele analisa, entre outros temas, as raízes teóricas do vira-latismo no Brasil.

Primeiro, ele mostra como as noções consagradas nas ciências sociais de "patrimonialismo" e "populismo" são uma derivação do racismo científico, não mais baseado na cor da pele, mas nos "estoques culturais".

Tais conceitos criaram uma imagem de brasileiro como congenitamente corrupto, personalista e, assim, incapaz de qualquer ação política pública, no sentido de ir além dos interesses da família e dos amigos. Como se em outros países a família e os amigos também não fossem importantes.

Mas o mais interessante é como ele demonstra o "efeito de realidade" dessas categorias teóricas na vida cotidiana do brasileiro.

Utilizada pela esquerda e pela direita, do PSDB e Rede Globo ao PT, tais categorias ocultam a corrupção no mercado ao centrarem-se apenas na corrupção no Estado.

Para Souza, uma pré-condição para o sucesso da Operação Lava Jato foi a disseminação dessas categorias como lentes de leitura do Brasil.

Assim, ele explica porque a Globo e a classe média fazem tanto barulho devido à corrupção no Estado, mas fecham os olhos para a corrupção no mercado financeiro, que rouba 500 vezes mais do povo do que o que a Lava Jato descobriu entre os políticos.

Fundamental também na interpretação de Souza sobre o Brasil é que o que explica o país não é uma suposta herança portuguesa (patrimonialismo, personalismo), mas a escravidão.

A escravidão de ontem é o que explica o ódio das elites e classes médias ao pobre de hoje. 


Raphael Cruz

Pulicado originalmente em @caderno_de_sociologia (Intagram)

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