Ação e estrutura na sociologia
Retomei a leitura de Teoria social hoje, livro organizado por Giddens e Turner (1999).
Conheci o livro durante o processo seletivo para o mestrado em sociologia da Universidade Federal do Ceará, nos idos de 2012.
Naquela época estudei por uma xerox e recentemente adquiri o livro. O que para mim torna a leitura mais prazerosa.
No geral, a obra traz um panorama das teorias sociais contemporâneas. Isso se restringirmos a noção de “contemporâneo” até os anos 1980!
Tem interacionismo, sistema-mundo, behaviorismo, estuturalismo e pós estuturalismo, teoria crítica, retornos e críticas a Parsons, práxis e estruturacionismo.
No capítulo Teoria da estruturação e práxis social, Ira J. Cohen (1999) analisa possibilidades e limites do positivismo (que transporia a lógica das ciências exatas para as humanas), interacionismo (que estaria preso a análise in situ), etnometodologia (que operaria uma assimetria completa entre comunicação e ação) e funcionalismo (uma abordagem estática que exclui a práxis).
O autor está preocupado em problematizar ação e estrutura de um ponto de vista que as relacione e não provoque uma exclusão recíproca.
Formulada por Giddens, o estruturacionismo ou teoria da estruturação busca resolver epistemologicamente a relação entre “ação” e “estrutura” na sociologia.
O estruturacionismo de Giddens, como afirma Cohen (1999), busca sair do lamaçal sem fim das discussões sobre ação e estrutura, talvez, o equivalente sociológico do dilema “quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?”.
A saída metodológica que a teoria da estruturação oferece é não diluir a ação na estrutura, nem excluir a estrutura do condicionamento da ação social.
Nesse sentido, na narrativa do estruturacionismo ressurgem todos aqueles binômios problematizantes que fazem parte das teorias sociais: “ação e estrutura”, “natureza e cultura”, “indivíduo e sociedade”, “permanência e mudança”, “regularidades e não regularidades”, “micro e macro”. Contudo, desde uma perspectiva não exclusivista, mas dialética, que busca integrar essas oposições.
Pensando em meus sujeitos da pesquisa, especificamente no que tange a análise de suas narrativas obtidas por entrevista semi-estruturada, acredito que o estruturacionismo, antes de me oferecer uma metodologia “pronta e acabada”, me oferece um tipo de sensibilidade epistemológica para tratar a relação entre ação e estrutura, representações sobre o trabalho e o próprio mundo do trabalho, um dos meus temas para a dissertação de mestrado.
Ele me indica um caminho para não cair nas tentações de diluir o agente nas estruturas. E, por outro lado, também não isolar o agente das estruturas sociais e do Zeitgeist (espírito do tempo) de sua época.
Penso que essa tensão entre ação e estrutura é embaraçosa demais para ser resolvida de uma “tacada só”. E que terei de lidar com ela durante meu percurso de pesquisa. Contudo, sem absolutizar nenhuma dessas dimensões, seja um estruturalismo em demasia, que anula o agente ou o entende como mero reflexo das estruturas (a lá Althusser), ou um individualismo metodológico, que separa artificialmente o agente de seu contexto, reduzindo-o a traços psicológicos.
Raphael Cruz
Referências
CHOEN, Ira J. Teoria da estruturação e práxis social. In: GIDDENS, Anthony; TURNER, Jonathan H. (Orgs.). Teoria social hoje. São Paulo: Editora UNESP, 1999.
GIDDENS, Anthony; TURNER, Jonathan H. (Orgs.). Teoria social hoje. São Paulo: Editora UNESP, 1999.
Nota: o presente texto foi revisado em 13 de outubro de 2022.
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