Weber e o desenvolvimento do capitalismo

Max Weber (1864-1920)


Para Weber, o capitalismo existe a partir do momento em que as satisfações das necessidades de um grupo humano se realiza a partir de um caráter lucrativo e por meio de empresas, onde uma exploração racionalmente capitalista é operada por empresa lucrativa que controla sua rentabilidade na ordem administrativa por meio da contabilidade moderna, estabelecendo um balanço (WEBER, 2010, p. 257).

Assim, o elemento constitutivo da exploração capitalista é o seu caráter racional (burocrático) com vista ao lucro, “orientada de tal maneira que, se imaginarmos eliminada esta classe de organização, fica em suspenso a satisfação das necessidades” (WEBER, 2010, p. 258).

Os fatores, ou condições prévias da exploração capitalista, são as seguintes:

“Apropriação dos meios concretos de produção por parte do empresário, liberdade de mercado, técnica racional, direito racional, trabalho livre e, finalmente, especulação, que assume importância a partir do momento em que a riqueza pose ser expressa por meio de valores transferíveis” (WEBER, 2010, p. 265).

Weber identifica: 

1) a apropriação ou monopólio (como diria Marx) dos meios de produção, separando o trabalhador dos meios de trabalho, rompendo de cima a baixo a imagem pré-Revolução Industrial do antigo artesão em sua oficina. 

2) A figura do empresário é o contraponto do trabalhador. É o empresário que agencia os valores dessa nova mentalidade racional da produção com vistas ao lucro. 

3) A técnica racional, visando diminuir os preços, impulsionando a concorrência, dando início a corrida a busca por inventos ainda no século XVII. 

4) A produção racional precisa como suporte de um direito racional. 

5) O trabalho livre formado pelos assalariados. 

6) Por fim, tem-se a especulação, isso quer dizer, a expressão da riqueza por meio de valores transferíveis, onde a figura institucional dos bancos são o suporte necessário desse tipo de ação.

Weber (2010, p. 330) nota que,

“Decisivamente, o capitalismo surgiu através da empresa permanente e racional, da contabilidade racional, da técnica racional e do direito racional. A tudo isto se deve ainda adicionar a ideologia racional, a racionalização da vida, a ética racional na economia”.

Essa ética racional e racionalização da vida se deve em parte aos efeitos da Reforma Luterana, “onde não se prega a pobreza, mas a posse da riqueza não deve induzir a um gozo puramente animal” (WEBER, 2010, p. 330), propiciando que “as personalidades rigidamente religiosas que se haviam enclausurado, tivessem que trabalhar dentro do mundo comum” (WEBER, 2010, p. 330), fazendo com que a ascese ultraterrena fosse absolvida.

Foi somente no Ocidente que esses fatores de ordem cultural, política, econômica, geográfica se imbricaram de tal forma que se condensaram na forma do capitalismo moderno com seu centro de gravitação sobre os processo de racionalização da produção e exploração com vistas ao lucro. 

Weber afirma que “o desenvolvimento da sociedade feudal estava já no ar do Império Romano tardio” (WEBER, 1989, p. 50). Assim, podemos também dizer que a sociedade capitalista já estava impregnando o ar do feudalismo a partir do desenvolvimento do mercantilismo.

Para Weber, o mercantilismo é “a transferência do interesse do lucro capitalista para a política. O Estado procede como se tivesse única e exclusivamente formado por empresários capitalistas” (WEBER, 2010, p. 315). 

Foi a partir dai  (do mercantilismo) que encontramos uma poderosa articulação entre Estado e capital, nos dizeres de Weber, uma “aliança do Estado com os interesses capitalistas” (WEBER, 2010, p. 317).

Assim, temos em Weber uma série de fatores típicos da história do Ocidente que começam a se desenvolver no interior do feudalismo que vão se condensando até atingirem a forma do mercantilismo que preparou o terreno para a superação do feudalismo pelo sistema capitalista.

Raphael Cruz


Referências

WEBER, Max. Origem do capitalismo. In: WEBER, Max. História geral da economia. Cap IV. São Paulo: Centauro, 2010.


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