Tarde demais para Durkheim?

Gabriel Tarde (1843-1904)
 


O debate entre Gabriel Tarde e Émile Durkheim no final do século XIX e início do XX na França foi fundamental para o futuro da sociologia.

Não foi qualquer debate, pois marcado por posições divergentes em relação ao objeto e ao método, a subordinação ou autonomia da sociologia frente a psicologia e aos outros campos do saber.

Durkheim enfatizou a primazia do coletivo sobre o individual, enquanto Tarde realizava o caminho oposto. 

Enquanto o primeiro partia da análise dos fatos sociais, o segundo a iniciava a partir da psicologia individual.

Durkheim advogava a especificidade do social e a autonomia científica da sociologia, enquanto Tarde defendia a dependência do social a consciência individual e a subordinação da sociologia à psicologia.

Se o pensamento de Durkheim caminhou rumo à determinação do social sobre o indivíduo, Tarde foi rumo a autonomia do indivíduo sobre a coletividade.

Refletindo a partir do conceito de campo de Bourdieu, podemos indicar que na disputa interna ao campo intelectual francês da passagem para o século XX, os pensadores operaram discursos divergentes e ocuparam posições diferentes. 

Tarde era um livre-pensador, já Durkheim o profissional da sociologia.

No decorrer do século XX, a sociologia de Durkheim conseguiu acumular capital social o suficiente para se tornar um dos cânones intelectuais da sociologia moderna, sedimentando uma posição dominante no campo científico em relação à abordagem psicológica da sociologia tardiana.

No entanto, ao longo da história específica do campo, seus eixos e estruturas podem ser redefinidos.

Assim, a sociologia de Tarde experimentou um certo redescobrimento e associações com a microfísica do poder de Foucault, a filosofia da diferença de Deleuze e com a teoria do ator-rede de Bruno Latour, este um dos mais destacados neo-tardeanos contemporâneos, ocupando a cadeira Gabriel Tarde no Institut d'études politiques de Paris.

Partindo de uma perspectiva pós-durkheimiana e pró-Tarde, Latour chega a afirmar que a redescoberta de Gabriel Tarde é um começo alternativo para uma ciência social alternativa.

Seria, então, tarde demais para Durkheim?

Raphael Cruz


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